quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Violeta Hemsy de Gainza fala sobre Educação musical

Especialista argentina defende o aprimoramento da formação dos professores, aproximando-os da cultura local e garantindo que tenham contato direto com a linguagem artística

Seja na função de docente, seja atuando como intelectual fundadora do Fórum Latino-Americano de Educação Musical (Fladem), Violeta Hemsy de Gainza é uma das mais importantes autoridades mundiais no ensino de música. Aos 81 anos, a pianista, educadora e psicóloga musical é autora de mais de 40 obras, que abordam Pedagogia da música, didática do piano e do violão, formação de conjuntos vocais infantis e juvenis, improvisação e musicoterapia. 

Figura central na história da Educação musical dos séculos 20 e 21, ela diz que o ensino de música em países como o Brasil passa por uma crise e fala sobre os caminhos a serem percorridos para formar bons professores até 2012, quando o conteúdo passa a ser obrigatório na Educação Básica (mas ainda vinculado à disciplina de Arte). Para Violeta, é essencial que os educadores sejam bem formados para trabalhar em sincronia com a realidade social e cultural dos países latinos. "A escola tem de ir ao encontro das necessidades musicais dos alunos." Durante visita à Universidade de São Paulo (USP), no ano passado, ela concedeu esta entrevista à NOVA ESCOLA.

Na sua opinião, a Educação musical na América Latina está em crise. Que crise é essa?
VIOLETA HEMSY DE GAINZA 
É parte de uma situação que dominou o mundo globalizado, consequência direta do modelo político e educativo adotado nestes tempos. A Educação musical perdeu créditos, se tornou uma utopia. Em alguns países, foi suprimida em vez de ser melhorada. Não é organizada de uma maneira integrada, está ilhada e sofre com a falta de estabilidade. Gostaria que não fosse mais preciso ficar discutindo se a música é algo relevante ou não. Ela sempre é muito importante para os alunos, desde que bem ensinada. 


A Educação musical é uma ferramenta de inclusão social e cultural?

VIOLETA:  
Sim, e existem muitos movimentos nesse sentido, especialmente os encabeçados por instituições culturais e de Educação não formal. Há muito potencial a ser explorado e a inclusão social deveria estar dentro disso, não como uma moda. Para que a inclusão seja democrática, a música deveria ser bem ensinada em todas as escolas e em todos os segmentos, até a universidade.

Como aproximar a cultura latino-americana da música na escola?

VIOLETA: 
Os países latino-americanos estão tratando de aprofundar sua identidade e isso vem sendo feito com certa dose de dificuldade. Apesar de terem mais de 200 anos de independência política, vários ainda lutam pela independência dos centros do mercado mundial. Não é uma coincidência que os modelos educativos atuais fracassem. E é por isso que ressalto o êxito que bons projetos de inclusão musical podem ter quando trazem à tona a cultura local. 


Há bons projetos de formação musical nos países latinos?

VIOLETA: 
Sim, conheço alguns. Essas nações possuem uma extraordinária riqueza musical. No Brasil, há alguns projetos notórios. Destacaria o Projeto Guri, no estado de São Paulo, que beneficia milhares de crianças e jovens de famílias de baixa renda, integrando-os a orquestras e bandas de música erudita e popular. Também merece destaque o trabalho sociomusical desenvolvido pela escola Pracatum, em Salvador, do cantor e compositor Carlinhos Brown. Nos demais países, uma das iniciativas mais bem-sucedidas de que tenho notícia é o El Sistema, das orquestras infantojuvenis da Venezuela, aclamado por introduzir a música na vida de crianças em situação de risco e promover a inserção artística e profissional de todas elas. 


O Brasil aprovou uma lei para tornar obrigatório o ensino de música na Educação Básica. O que tem a dizer sobre isso?

VIOLETA :
Este é um dos países mais pujantes e criativos no que diz respeito à produção musical. Se aqui vai haver ensino de música nas escolas novamente, meu conselho é que os educadores responsáveis pelo planejamento busquem lições das nações que não conduziram bem esse processo e gastaram muita energia em infraestrutura, computadores e planejamento. Planejar é importante, mas é preciso pensar no processo educativo propriamente dito. 


Qual é o melhor jeito de fazer isso?

VIOLETA: 
Não existe uma maneira única de trabalhar corretamente, mas devem ser respeitados alguns princípios comuns. Um deles é que o ensino de música começa com a produção e a prática da própria música. Essa é uma condição básica. Por isso, o governo precisa buscar formas que sejam profundamente atuais e eficazes para satisfazer às necessidades musicais apresentadas pela moçada que está na escola. 


Qual é o principal objetivo educacional da música no currículo?

VIOLETA: 
Dar a todos os estudantes a oportunidade de compreender e expressar a linguagem musical e, ao mesmo tempo, fomentar o desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade de articulação de crianças e jovens por meio da prática musical ativa. 


Que mudanças devem ser feitas para que a Educação musical no Brasil se torne uma realidade?

VIOLETA: O primeiro passo é buscar profissionais preparados. Muitas vezes, as estruturas educativas são extremamente burocratizadas e, sempre que se tenta promover algo, são chamadas as mesmas pessoas. Necessitamos de professores, de fato, especializados em música. Essa é uma questão profunda. Se ensino Medicina, contrato médicos. Por que, se ensino música, contrato pessoas que desconhecem o tema?

Então, professores de música precisam necessariamente ser músicos?

VIOLETA: 
Mais do que isso. Eles têm de ser especialistas em música e em Pedagogia. Nem todos os músicos conhecem a Educação profundamente. Com a de-cadência da Educação musical formal, os docentes licenciados em música foram diminuídos, mal aproveitados. Hoje, confia-se muito mais em um professor de Arte, que demonstra estar mais atualizado quanto à realidade de sala de aula. Se a música vai voltar às escolas, isso não pode ser feito superficialmente. 


Como formar bons professores para o ensino de música?

VIOLETA: Para começar, eles têm de conhecer música e ter contato com essa arte. Somente se tiver vivência musical construída ao longo da vida, poderá aprender mais e assim adquirir um conhecimento mais profundo para ensinar as crianças. Há educadores que não fazem ideia de como funcionam o comportamento e o desenvolvimento sonoro dos alunos. Isso, definitivamente, não é algo que se consegue apenas lendo trabalhos acadêmicos ou um livro sobre neurociência. Eles têm de entender e praticar a Educação musical e os governos devem oferecer cursos e estímulos para quem quiser se aperfeiçoar. 

Começar o ensino de música pelo canto é o melhor caminho?

VIOLETA: Música se faz com a boca, com o corpo e com os instrumentos. Não há uma fórmula específica. Não se pode prescindir do canto. Nem todas as crianças cantam bem. Isso é bem difícil para qualquer um fazer. De qualquer forma, os pequenos devem usar a voz e tocar na escola. E cabe aos educadores oferecer a eles as oportunidades, de acordo com a aptidão de cada um. 

A senhora estuda um método conhecido como eutonia. O que é isso?

VIOLETA: É um método criado no século 20 pela alemã Gerda Alexander (1908-1994) que ajuda as pessoas conhecer suas referências corporais. A sabedoria dela foi reconhecer que o remédio para aliviar as tensões é o controle do tônus. E a música se inclui nisso. Interpretar (Ludvig van)Beethoven (1770-1827) é diferente de interpretar (Claude) Debussy (1862-1918). O primeiro exige um tônus mais pesado, e o segundo criou algo mais leve. Eu tocava piano e estudava técnica, e a metodologia da eutonia me ensinou o que era tocar. Como disse o músico e compositor argentino Fito Paez: dar es dar. Tocar é tocar, oras. Foi assim que aprendi a reconhecer quando alguém toca você.

Fonte: Revista NOVA ESCOLA

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Separações no meio artístico




Costumo ouvir a frase: "você não tem do que reclamar", e gostaria que ela fosse em sua totalidade real, mas já posso listar fatores que fazem dessa frase, uma pequena fração da verdade e só. Um desses fatores é que: Sou artista no Brasil, um país repleto das mais diversas culturas e realidades, rico em referências e bonito na sua natureza, mas onde todos esses aspectos não são valorizados pela grande massa. 
Porém vou me restringir a falar da carga que carregam os próprios artistas. Vejo no meu convívio com meus colegas da arte, que eles mesmos são grandes responsáveis por essa desvalorização, comercialização e massificação do nosso universo artístico. Vejo artistas que segregam, que se fecham em clãs, grupos, crews, ou seja lá que denominação podemos dar a pessoas que se fecham em seus "estilos" negando as belezas e riquezas do outro e pior se separando do outro. Nós devemos ser unidos, respeitosos e por favor, humildes. Já conheci artistas humildes e esses são os mais sábios que conheci. O EGO sempre tomou conta dos fazedores de arte, mas com a compreensão de mundo que temos nos dias atuais, é obviamente inaceitável a valorização do ego em pessoas que se denominam genuinamente artistas. É triste ver que poderíamos estar todos conectados e unidos, lutando por ideais comuns e somando cada um com sua arte, mas ao invés disso, ficamos apontando o dedo para os colegas e excluindo-nos uns dos outros. Sonho e não utopicamente com a união e o respeito no meio das artes. E aconselho aqueles que além de se afastarem das demais artes, ficam ainda com modelos estéticos ultrapassados e classificando dentro de seu próprio eixo, nos deixando claro e amostra essas separações, em eventos exclusivistas, mesmices de público alvo e restrições das mais diversas mesmo que essas não sejam verbalmente declaradas, que abram suas mentes, desçam do altar do ego, respeitem-se entre si e sejam agregadores sempre. A arte é ferramenta do ser e do saber, só está a décadas sendo deturpada e mal utilizada.

Por Sthefany Leal

Uma nova pedagogia em uma escola pública de São Paulo

Confiram o vídeo!


Vambora Brasil!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Refletindo e filosofando...

A Vida É ilusãO



É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão.

Sim eu concordo que a vida seja uma ilusão... Isso porque a vida é feita de discursos e narrativas e nenhuma delas, até mesmo as científicas, conseguem se assumir como verdade absoluta, pois estão infimamente ligadas ao ser humano, à sua mente e sua imaginação. O que hoje pode ser considerado irrevogável pode não o ser daqui uns centos anos...
Há os que acreditam em um discurso religioso e vivem bem assim e também há os que não creem neste mesmo discurso e também vivem bem. Usamos vários discursos para explicar a natureza humana e talvez tentar alterá-la e ainda que alteremos uma coisinha ou outra, lá estão os homens lutando entre si e em si. Isso não muda, jamais. Não importa em qual sistema estejamos vivendo e de baixo de quais valores... Sempre estará o ser humano cometendo as mesmas gafes por poder.
Talvez a gafe e os erros não sejam o que importa... Talvez o que seja importante sejam essas teorias que inventamos à respeito de tudo e pra tudo. As reflexões e associações que fazemos. Mas será que sabemos lidar com isso? Estamos aqui jogados, vivendo e sobrevivendo à base de teorias, discursos e teses que se espalham, procriam e no fundo estão todas certas e equivocadas... Podemos usar mil exemplos para justificá-las e mais mil para renegá-las.
Daí só posso crer que de fato e no ato, assim como disse Salomão, a vida é uma ilusão... Porque, já diz Shopenhauer:

“O mundo é a minha representação – Esta proposição é uma verdade para todo o ser vivo e pensante, embora só no homem chegue a transformar-se em conhecimento abstrato e refletido. A partir do momento em que é capaz de levá-lo a este estado, pode dizer-se que nasceu nele o espírito filosófico. Possui então a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas apenas olhos que veem este sol, mãos que tocam esta terra; numa palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem” (Schopenhauer).

  
Há também um ditado chinês que diz: “O mundo não é o que é, mas o que nós somos”.
Ou seja, o mundo é o que cada ser humano pensa do mundo. E ninguém é capaz de concordar inteiramente com o outro, porque a comunicação é falha e ninguém compreende ou outro totalmente...

Daí ao tentar olhar o mundo como espectador e se deparar com uma repetição infinita de comportamento: violência, inveja, orgulho, ganância. Ao perceber que o sentido da vida é frequentemente questionado e nenhuma resposta é boa o suficiente por muito tempo...

“Estoy de acuerdo” com o dramaturgo espanhol Calderón de La Barca: “La vida es sueño”

No entanto, ainda que a vida seja uma ilusão, ou representação como diz Shopenhauer e que possamos nos servir disso para expandir nossa mente e respeitar mais o próximo, é perigoso relativizar em excesso, sendo assim, precisamos nos desiludir e deixar de crer em verdades que não cabem em nossos discursos atuais ou pelo menos entender em que essas verdades se transformaram, mas isso é um assunto para outras reflexões...

Por Titta.

Fontes:
1- Bíblia. Eclesiastes 1.2.
4 - LA BARCA, Calderón. La vida es sueño. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Edgar Morin: seu pensamento transdisciplinar e a educação planetária

Livre de fronteiras disciplinares, Edgar Morin pensa de forma transgressora e complexa. Interliga conhecimentos de distintas áreas, estabelecendo uma comunicação capaz de dotar de sentido o saber. Propõe a interligação entre ciência, artes e tradição; entre sujeito, objeto e conhecimento produzido; entre corpo, mente e sentimentos.
Questionando a separação dos conhecimentos em disciplinas que não se comunicam entre si, argumenta que na escola tradicional aprendemos a separar e analisar sem, contudo, aprendermos a relacionar e a interligar.
Seguimos nessa lógica da “separação” e da “distinção” encarando o ser humano como sendo corpo, mente e sentimentos, partes disjuntas entre si, ignorando que esses são três aspectos de um todo indivisível e complexo.
Em níveis mais amplos, continuamos a mesma lógica de separação e disjunção. A discriminação social, a estratificação das pessoas em camadas sociais ou em níveis sociais, ou ainda em castas. As guerras e a falta de diálogo intercultural. A incapacidade de compreender as necessidades e os pontos de vista do outro, de outra cultura, de outra comunidade.
Segundo Morin, nosso atual modelo de educação, fundado sobre a lógica da disjunção, é incapaz de perceber as relações existentes entre os conhecimentos, é incapaz de conceber e contemplar, em seu currículo e sua didática, o ser humano como um todo indiviso. Desta maneira, contribui para o distanciamento cada vez mais crescente do ser humano para com os outros e para com a natureza. Sem falar no desconhecimento do ser humano em relação a si próprio, a seus desejos internos, suas necessidades, seus sentimentos, medos e anseios.
Para Morin, todo conhecimento é uma tradução e uma reconstrução. Não existe um conhecimento absoluto, ao contrário, o conhecimento é sempre passível de erros e ilusões. A ideia de que todos percebemos a mesma realidade é uma ilusão. A partir da nossa percepção individual, traduzimos os estímulos que recebemos do exterior e reconstruímos a realidade conforme nossos próprios processos internos. Ou seja, o que achamos que é a realidade, na verdade é uma interpretação particular, individual e só partilhada através da linguagem.
A educação tradicional, portanto, adotou um único modelo de realidade que é postulado nos livros didáticos que são perpetuados geração a geração. Os professores são formados a partir de uma simplificação de mundo onde eles acreditam que é possível simplificar a realidade para ser melhor apreendida ou transmitida a seus alunos.
Este é um grande obstáculo o qual a educação planetária, estruturada sob um Paradigma da Complexidade e não um paradigma da simplificação, deve conseguir transpor.
Os conhecimentos que criamos na escola tradicional, simplificados e simplificantes, passam a ser tratados quase como dogmas e esses dogmas passam a “controlar” a escola, os currículos, didáticas e sistemas de avaliação. Controlam o fazer do professor, a estrutura das salas de aula,  os corredores e pátios.
Uma educação simplificadora e dogmática, disciplinar, atrofia a aptidão de contextualizar os conhecimentos. Valoriza muito mais a separação que a associação de ideias num todo significativo.
A educação planetária deve caminhar em direção às associações, não só analisando a realidade, mas estabelecendo relações entre os conhecimentos construídos. Relacionando não somente conteúdos disciplinares de diferentes áreas, mas também indivíduo, sociedade e natureza; corpo, mente e emoções.
A identidade humana, o que nos torna humanos, o que nos une enquanto seres humanos? Essa é uma questão que não pode ser ignorada pela educação planetária.


Somos todos muito parecidos geneticamente. Enquanto indivíduos de uma mesma espécie, temos as mesmas necessidades. Ao mesmo tempo, somos diversos, em cultura, em organização de sociedades, raças, línguas.
Somos, ainda, parte de uma natureza indivisível. Dependemos de interligações com outros seres vivos, com seres não vivos, somos natureza.
Essas são as três dimensões do ser humano: enquanto individuo, enquanto espécie, enquanto ser social.
O ser humano está ameaçado em todas as suas dimensões. Esse pensamento simplificador da realidade fez com que, ao perdermos a visão do todo e suas ligações, produzíssemos conhecimentos capazes de nos distanciar cada vez mais da vida natural e social.
Produzimos ameaças a nós mesmos. Enquanto espécie, estamos ameaçados constantemente por perigos de guerra, de desastres nucleares, perigos causados pelo aquecimento global.
Enquanto ser social, estamos ameaçados por um totalitarismo do capital, por uma economia que invade fronteiras e busca uma homogeneização capaz de aniquilar culturas em prol da criação de consumidores para alimentar o mercado.
Enquanto individuo, o ser humano se perde de si mesmo, ignora sua espiritualidade, seus anseios, seus desejos e medos. Ameaça a si mesmo e cai, cada vez mais no abismo das doenças da modernidade: depressão, ansiedade, obesidade, dentre outros transtornos severos.
Devemos, portanto, através de uma educação planetária, nos proteger enquanto espécie, enquanto ser social e enquanto indivíduos. A escola para uma educação planetária deve contemplar esses aspectos em seus planos curriculares, na didática e atividades cotidianas, em uma nova concepção espacial da escola.

Movimento Armorial

Qual é a cultura verdadeiramente brasileira?

Negra, portuguesa, indígena?


    No dia 18 de Outubro de 1970, na Igreja São Pedro dos Clérigos em Recife, iniciou-se oficialmente o movimento, no qual se busca trazer a resposta a essa pergunta. O idealizador foi e é o dramaturgo e romancista pernambucano Ariano Suassuna, que naquela data lançou o concerto-pedagógico, com a Orquestra Armorial, entitulado ”Três Séculos de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial”, no qual a pintura, escultura e xilogravura se uniam à música para lançar as ideias do escritor.
   Em meio à forte entrada dos valores culturais americanos no nosso país nos anos 70, o movimento, diferente do Tropicalismo, se focou integralmente na busca das origens da cultura nacional, a fim de se criar uma arte sólida e verdadeiramente brasileira, com ênfase no Nordeste.
     A Arte Armorial se baseia na ideia de que a cultura brasileira genuína é resultado dos intensivos processos imigratórios,  livres e forçados, que ocorreram no país desde a chegada dos portugueses, e da cultura indígena anteriomente já presente. Com isso, o movimento assume uma arte de formação técnica européia (erudita) e com base na tradição nacional, englobando diversas expressões artísticas como a música, o teatro, a poesia, a dança, a pintura, xilogravura, escultura e até o cinema.


Ariano Suassuna
    
A Orquestra Armorial, com a qual lançou-se o movimento, foi logo convertida em um grupo menor para melhor se adequar à estética pretendida, e formou-se então o Quinteto Armorial, que foi um dos maiores expoentes do movimento, formada pelos (na época) jovens músicos: Antônio Madureira, Antônio Nóbrega, Egildo Vieira, [Jarbas Maciel], Edison Eulálio Cabral e Fernando Torres Barbosa. O grupo obteve um excelente alcance da estética pretendida, é fácil entender do que se trata o movimento ouvindo seus quatro álbuns gravados: Do Romance ao Galope Nordestino (1974);  Aralume (1976); Quinteto Armorial (1978); Sete Flechas (1980);

Quinteto Armorial
Quinteto Armorial
    
Nas Artes Plásticas, os principais percurssores da estética armorial foram os pernambucanos Gilvan Samico (xilogravura) e Francisco Brennand (escultura). Tomando por base a arte tradicional e de traços tortos da xilogravura e dos ferros marcadores de gado do Nordeste, puderam dessa forma, dar cores e formas ao universo mítico do Sertão que Ariano Suassuna idealizara.
Gilvan Samico
        Obra de G. Samico
Brennand
Ateliê de F. Brennand  no Recife
    Também inspirado nos ferros marcadores de gado, A. Suassuna desenvolveu um trabalho tipográfico ligado à sua heráldica sertaneja: o Alfabeto Armorial.
TIPOGRAFIA ARMORIAL
No link abaixo, do Blog ”O Tipo da Fonte”, pode-se entender melhor o processo de concepção do alfabeto:

    Quanto ao nome ”Armorial”, que é um substantivo que dá nome ao livro que contém os antigos brasões e bandeiras das famílias, foi usado como adjetivo por A. Suassuna, por idealizar um sertão quase que medieval à maneira brasileira, comparando os cangaceiros aos cavaleiros, os donos de fazenda aos rei e condes e suas filhas a princesas; sendo assim, os símbolos dos armorias trariam a principal inspiração para a estética e aspiração ao mundo sertanejo que A. Suassuna sonhara.
    Este mundo pode ser vivenciado em seus autos e peças de teatro, porém a sua maior obra em termos armorias é o seu primeiro romance escrito em 1971, e que se tornou imprescindível a quem quer conhecer o movimento; chama-se ”O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, sendo o primeiro da trilogia ainda inacabada “A Maravilhosa Desventura de Quaderna, o Decifrador, e a Demanda Novelosa do Reino do Sertao”, da qual A. Suassuna escreveu a primeira parte do Segundo livro ”A História d’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão; Parte I – Ao Sol da Onça Caetana”. Baseada no primeiro livro, de grande sucesso, foi feita uma minissérie pela rede Globo em junho de 2007, que tem excelente produção e expressa muito bem a estética do movimento.

a pedra do reino
     
    Em 2000 foi lançado o filme baseado no livro ”Auto da Compadecida”, o qual fez enorme sucesso e ganhou muitos prêmios, sendo o principal expoente da estética armorial ligada ao Cinema.
   Atualmente A. Suassuna executa seus concerto-pedagógicos junto a um grupo de dançarinos e músicos entitulado ”Circo da Onça-Malhada”, apresentando-se em diversas cidades do país, divulgando as ideias e estética do movimento.
    O Movimento Armorial, em sua escência, não é ligado a dogmas e não supõe regras: Foi, e ainda é, uma tentativa de mostrar ao nosso país a sua própria cara. Nasceu na fase do ínico da crítica supressão da nossa cultura tradicional e popular, e é um alerta de que nossa cultura está sendo substituída por padrões exteriores, tão pouco ligados às nossas verdadeiras tradições. Ariano Suassuna é, porque não, um profeta: o seu mundo fantástico é um portal para o que há de mais real na nossa cultura.

Educação arcaica.


Chegamos num período crítico em relação a atual situação educacional no Brasil. Moldes, padrões, métodos e fórmulas arcaicas tomam conta de nosso cenário de educação formal no país. Professores adeptos às formalidades e amarrados à pressupostos alienantes, tornam a prática docente travada em seu tempo, desrespeitando o processo evolutivo da sociedade e suas características contemporâneas.
Quando começamos a destrinchar os motivos pelos quais a situação da educação aqui é tão precária, um certo desespero nos atormenta, e aquela sensação de que tantas estruturas necessitam ser modificadas, que somente uma trupe de extraterrestres com diversos poderes poderiam causar alguma mudança em nível nacional.
 Utopias à parte, vejo presente no meu convívio com os mais diversos tipos de educadores, aqueles que parecem estar num nível “inconsciente” e aqueles que parecem estar num nível “consciente”. Porém a grande maioria ainda marcante, é daqueles que ainda não compreenderam em si mesmos, que tipo de educador ele é, e que qual tipo de aprendiz ele quer ter. E essas devem ser perguntas centrais na sua prática docente, mesmo que todo o sistema estruturado seja o causador de ações e reações de muitos fracassos nas escolas e salas de aula, está nas mãos dos educadores, parte da responsabilidade universal para uma nova ordem mundial. Diversos estudos relatam que a falta de saúde e alimentação básica, tornam o ensino inviável, ou seja, crianças e jovens doentes e desnutridos, não conseguem se desenvolver potencialmente em questões cognitivas. Então o Brasil está cavando o seu próprio buraco e a cada dia caminhamos rumo ao caos na sociedade. Isso na verdade já vem acontecendo, e posso analisar com clareza pois habito na cidade mais cinza e consumista do Brasil, São Paulo. Aqui já vivemos o caos, ele é cotidiano. As questões mais primárias se tratando de educação deixam a desejar nos moradores daqui. Nossa religião é o dinheiro, nossas igrejas os shoppings e assim somos escravos do consumo e do trabalho. Ter vale mais do que Ser, e assim o caos social vem se consolidando dia após dia. Ainda me resta esperança, pelo trabalho que desenvolvo, pela biografia que está presente no meu trabalho e por conhecer colegas e projetos que acreditam na mudança e se aconselham nos textos imortais de Freire, Morin, Milton Santos entre outros. A fé sem hipocrisia aumenta quando entro em sala de aula e desconstruo, descubro, provoco, estimulo. Quando ouço relatos de alunos dizendo que estão lendo, filosofando, enfim, pensando e existindo. A luta não pode cessar e enquanto houver pensadores e fazedores como nós, ainda temos no que acreditar.

Sthefany Leal.